Na última sexta-feira, estava na minha mesa no Esch Café,
quando um jovem casal sentou na mesa ao lado. O menino, meio escovadinho
demais. A menina, apesar da aparente timidez, mais esvoaçante. Fiquei sozinho tempo
suficiente pra acompanhar o ritual de acasalamento. Depois de algumas taças de
uma bebida colorida pra ela, um coquetel estranho seguido de uma dose de uísque
pra ele, os rostos se aproximaram. Uma das mãos dela no canto da face, na beira
da boca. Uma das mãos dele, muito pouco ousado, no ombro dela. Um olhar trêmulo
e tá lá: o primeiro beijo da história do casal. Uma cena comum para qualquer
espectador. Para os dois protagonistas, um momento biográfico. Pra mim a
alegria de testemunhar um momento de amor. Ou do prelúdio de uma trepada. Mas
um momento de arrepio, taquicardia e descompasso na respiração.
Assim é a emoção. Uma sensação com poder incomensurável.
Poder que a liderança de greves e manifestações mascaradas ou personalizadas
despreza. Esculhamba o cotidiano de quem vive honestamente. E banaliza um dos
mais sérios instrumentos de reivindicação.
Ainda bem que a partir de quinta-feira, até 13 de julho, o
poder da emoção vai tomar conta do país. E como as lentes da imprensa, o
brasileiro só vai estender olhares aos jogadores da seleção. Futuros heróis ou
não. Mas que ao cantar o hino, enfileirados na arena de Itaquera, vão fazer 200
milhões de pessoas esquecerem as filas e os atrasos por greves. Esquecerem as
fugas de quebradeiras, bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral. Esquecerem
os prejuízos pessoais causados pelos movimentos covardes dos últimos tempos. E
vão apenas sorrir e chorar, por fora e por dentro. Como o menino e a menina
depois do primeiro beijo. Como uma nação sempre emocionada, ao libertar um
grito de gol.
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