quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

FILHOS MERECEM E DEVEM SUPERAR SEUS PAIS.


Há alguns anos tenho minha mesa na calçada da Pizzaria Guanabara, no Leblon. Quase sempre estou só. Mas por essa mesa com menos de um metro de diâmetro, passam velhos e novos amigos. Mulheres apaixonantes, outras batedoras de carteira. Compositores, atores, atrizes. Empresários, políticos, diretores e executivos de emissoras de televisão. Escritores, humoristas, cineastas, artistas plásticos. Sem esquecer a assiduidade luxuosa de Ricardo Machado e Ana, Jean e Melissa Canero, Fernando Faraco, Crica Kloske, minha irmã Ana Luiza Sampaio, a policromática Wanessa Vidigal e a sempre Maria Cristina Santos. Uma agradável novidade no meu pequeno círculo de madeira é um novo e simpático amigo, filho de reconhecida celebridade da MPB, que me sensibilizou por sua discreta dor de não poder superar o pai. Não porque seu talento seja inferior. Ao contrário, suspeito que é superior. Mas ele não expõe sua arte, por uma estranha mistura de medo e respeito à estrela que o gerou. Observei que o mal é mais recorrente do que se imagina, quando há dois dias um cara mais velho, filho de um médico de reconhecimento internacional, pousou por acaso na minha pequena roda de madeira. Passamos umas três horas conversando. A conclusão dele: “papai é o máximo e eu sou um bosta”. Não sei o quanto contribui para aliviar ou alimentar o sofrimento do novo amigo. Mas aprendi que, se a capacidade de ser artista ou especial em alguma atividade profissional já é por natureza sofrida por todas ameaças a que estão sujeitas, quando refém da equivocada raiz genética o desconforto beira o insuportável. Chega à desistência do ofício ou a fatalidades piores. Por que muitos filhos tem pavor em superar os pais? Por que muitos pais se sentem ameaçados pelo talento dos filhos? Mistérios da vaidade paternal. Não sei se este foi o meu caso enquanto pai. Na dúvida, exalto a indiscutível capacidade de Maíra de Souza e a de Otávio Rangel, meus dois filhos brilhantes nas suas atividades. Se tive ou tenho, ainda que inconsciente e nem por isso menos estúpida, a covardia dessa vaidade, a destruo aqui e coloco meu texto a disposição prioritária para revelar meu orgulho de ter gerado dois filhos muito mais talentosos do que eu.

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